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Thomas Toscano

200 é pouco

Atualizado: 15 de set. de 2020


Por incrível que pareça, esse título faz sentido para quem acompanha a saga do auxílio emergencial no governo Bolsonaro. Para quem está por fora, no dia 26 de março deste ano foi votada no congresso a aprovação do benefício de 600 reais para quem recebe menos do que três salários mínimos por mês. Entretanto, segundo Marcelo Aro (PP-MG), relator do projeto, a ideia inicial do governo era pagar somente 200 reais aos mais afetados pela crise econômica causada pela pandemia.

Tal informação foi contestada pelo governo e pelo próprio presidente, que ao ouvir a fala de Rodrigo Maia defendendo o aumento do coronavoucher de 200 para 500, decidiu por fim que aumentaria para 600, vencendo os “oponentes” no leilão.

De caso pensado ou não, a mudança drástica de posição e atitude rendeu ao presidente dois momentos opostos. Primeiramente, o inferno de popularidade nos meses de abril e maio, rendendo até apostas em seu impeachment, e mais recentemente o céu: bateu seus melhores números de aprovação desde o início do mandato, chegando até 37% que o avaliam como bom/ótimo e somente 34% como ruim/péssimo, segundo o Datafolha.

Essa escala aos céus se deve fundamentalmente pela manutenção do auxílio emergencial. O presidente, que até o ano passado não parecia ter nenhuma preocupação em especial com a classe média e os mais pobres, viu agora uma grande oportunidade de ascensão meteórica. Entretanto, como a cera das asas de Ícaro, subir demais aos céus pode o fazer despencar.

Entra em jogo outra figura central no início do governo: Paulo Guedes, o ministro da economia e embaixador da Av. Faria Lima em Brasília. Cumprindo agenda liberal, Guedes foi um dos garotos propaganda da eleição de Bolsonaro por transmitir segurança aos investidores e prometer reformas estruturais na economia brasileira.

Mas além das promessas, pouco fez. Messias viu que para salvar a si próprio precisa dar pão ao povo e o diabo cobra caro. Em uma continha simples, nota-se que em doze meses o auxílio emergencial de 600 reais dado a 65,3 milhões de pessoas dá em torno de R$470.160.000.000,00. E sim, os zeros assustam, quase meio trilhão de reais, o que nem a dívida norte americana poderia custear.

Há uma eminente bomba a explodir. De modo que os valores já foram repensados e adaptados para o novo Renda Brasil, uma simplificação de diversos benefícios (que não se sabe ao certo quais, já que o anúncio oficial não foi feito) e substituição do Bolsa Família. E não só essa herança petista que Bolsonaro busca se apropriar: mais de trinta obras de infraestrutura, incluindo a transposição do rio São Francisco, que marca também um foco no nordeste e uma crescente na popularidade do presidente por lá. Isso deixa muito claro que tanto Lula quanto Bolsonaro se elegem não só pela ideologia, mas pela demagogia.

Vender-se como pai dos pobres não é novo no Brasil, mas não combina nada com os ternos caros de Paulo Guedes e seus assistentes, que um a um vão deixando o barco. O projeto liberal parece estar cada vez mais longe de se realizar e Bolsonaro, para se manter, precisa gastar.


E por isso, nas últimas semanas vem sido travada uma briga interna no planalto para decidir qual é o valor exato desse novo auxílio. Guedes quer “tirar dos pobres para dar para paupérrimos”, segundo Bolsonaro. E o presidente quer, segundo o ministro, falir o Brasil.

Mas manda o que foi eleito, não nomeado. E o eleito faz de tudo para se manter lá, queimando as asinhas de quem precisar pelo caminho. Brincando com fogo, o presidente corre risco de se queimar com quem o elegeu.


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