Projeções apontam derrota de Trump, mas cenário pode mudar
Pesquisas de opinião que vêm sendo feitas nos Estados Unidos mostram uma expressiva vantagem do candidato democrata Joe Biden. Na média, em nenhum dos seis estados que costumam decidir as eleições, os chamados swing states, Trump lidera.
Segundo o levantamento feito pelo Grinnell College e divulgado nesta quarta (2), a vantagem de Biden é de oito pontos percentuais, sendo ainda maior entre mulheres, negros e moradores de subúrbios, podendo nesses grupos chegar a dois dígitos.
A última vez em que se viu um candidato ter tamanha vantagem a dez semanas do pleito foi em 1996, quando Bill Clinton venceu Bob Dole com uma margem substancial.
Os próximos dois meses de campanha, porém, podem fazer o cenário mudar.
Na convenção republicana, Trump deixou claro o tom que irá adotar em sua campanha. Para o presidente, Joe Biden não terá pulso firme para impedir que socialistas e a China se aproveitem do caos pós-pandemia para dominar os Estados Unidos. “[Biden] não tem força para enfrentar marxistas alucinados como Bernie Sanders e seus companheiros radicais”.
A aposta de Trump é convencer os eleitores moderados, de fora de sua base, de que o momento é singular e exige um presidente com uma personalidade dura, que apesar de vilipendiar a democracia, será o único que conseguirá conduzir a nação à árdua reconstrução econômica que se mostrará necessária.
Para atrair essa parcela da população, o principal artifício usado será o medo. Seu discurso é que, se os democratas vencerem, mais de 400 mil presidiários serão soltos e as polícias perderão recursos e poder. O republicano também chamou atenção à anarquia que tomou conta das cidades comandadas por democratas, como Minneapolis, Chicago e Nova Iorque, referindo-se às manifestações contra o racismo e a violência policial eclodidas após o assassinato de George Floyd.
Além das diversas imagens de violência e vandalismo veiculadas nas propagandas republicanas, Trump alterou seus destinos de visitação para ir justamente às cidades palco de tensões raciais. A ideia é mobilizar a população que está assustada com as manifestações e os comerciantes que tiveram seus estabelecimentos depredados.
Nobel em Economia e colunista do The New York Times, Paul Krugman entende que a visão que Trump oferece ao eleitorado é de uma “carnificina americana, com cidades do interior devastadas por crimes violentos.”
Se a preocupação com as cidades do interior e o declínio regional eram temas centrais em seu discurso de 2016, a forma de reanimar seu eleitorado interiorano teve de ser outra, afinal a guerra comercial que Trump travou reduziu o emprego industrial. O exato oposto do que pregava na época de “Make America Great Again”.
O investimento feito no setor industrial para torná-lo competitivo com o de outras nações não acrescentou empregos ao mercado de trabalho estadunidense. Em vez disso, cresceu a automação em fábricas e montadoras já existentes.
Enquanto Trump mencionou o nome de Biden 42 vezes em seu discurso, Biden não tocou uma vez sequer no nome de seu adversário durante a convenção democrata. Nela, apenas falou-se sobre o fracasso no combate à covid-19 e a falta de empatia e razoabilidade do Governo.
Tido como um candidato sem sal, a grande tarefa de sua campanha será convencer o eleitorado a sair de casa para votar. A falta de entusiasmo dos eleitores é motivo de preocupação do cineasta Michael Moore, um dos poucos eleitores democratas que previu a eleição de Trump em 2016. “Alguém precisa acionar o alarme de incêndio político agora”, escreveu no Facebook. O fato de o Republicano ter uma base fiel e fanática pode fazer toda a diferença em uma eleição em que o voto é facultativo.
O vencedor do Oscar (Tiros em Columbine) critica fortemente o planejamento da expedição de Biden. “A campanha de Biden acabou de anunciar os Estados que ele vai visitar, e não inclui Michigan. Parece familiar?”
A falta de foco nos estados essenciais, principalmente Wisconsin, Pensilvânia, Ohio e Michigan foi uma das principais críticas que Moore fez à campanha de Hillary Clinton em 2016.
No último pleito, Bernie Sanders era o candidato preferido em Michigan -- estado com histórica inclinação democrata. Contudo, com a vitória de Hillary nas disputas internas do partido, muitos eleitores ficaram decepcionados e decidiram não votar. Trump venceu no estado.
O fato de Biden também ser um candidato escolhido pela burocracia do partido corrobora a falta de entusiasmo de sua campanha, além de seus discursos pouco animadores e sua falta de carisma.
A supressão dos votos também é motivo de preocupação dos democratas, que estão defendendo um uso mais amplo do voto por correio em razão da pandemia. O método já é adotado há anos e tem se mostrado eficiente.
Todavia, Trump está articulando para que esta modalidade seja reduzida, afirmando reiteradamente que ela é passível de fraude por interferência de democratas – ainda que não haja evidências disso. Pelo contrário. O novo diretor do U.S Post Service é um trumpista declarado, tendo feito inclusive generosas doações à campanha republicana e iniciado uma ‘operação slowdown’, retirando máquinas de centros de distribuição e reduzindo horas de trabalho até 2021.
A questão agora é saber se as campanhas podem mudar o panorama a ponto de reverter o resultado do pleito. A ver.
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